Ambiente: princípio, meio e fim
No princípio o fogo recriado além da
chama ardente. No princípio a água abundante em mais de uma nascente. No
princípio o solo fértil naturalmente. No princípio pedras lascadas e lanças
afiadas. No princípio feras dominantes e feras dominadas. No princípio árvores
em moradas improvisadas. No princípio grutas primitivas habitadas. No princípio
à caça e a pesca artesanal. No princípio os frutos colhidos em mais de uma
floresta além da tropical. No princípio os oceanos separavam sem qualquer
integração. No princípio do trigo cultivado o pão. No princípio da uva
fermentada o vinho. No princípio do algodão o tecido. No princípio da cana o
açúcar, a aguardente e a rapadura. No princípio o cavalo sem ferradura. No
princípio a monocultura movida pela escravidão. No princípio os metais e as
pedras preciosas movendo os interesses de mais de uma nação. No princípio toda a
criação à imagem e semelhança do Criador. No princípio o mesmo rebanho humano e
mais de um pastor.
No meio a navegação ultra marina de cunho
mercantilista. No meio a roda que se fez locomoção essencial. No meio os
trilhos com mais de um vagão comercial. No meio os feudos sob a égide da mesma
coroa imperial. No meio as terras disputadas em arsenal. No meio os povos
nativos dizimados pelos colonizadores. No meio os excluídos em outras
periferias em nada urbanas. No meio os palácios erguidos em nome das pátrias
proclamadas republicanas. No meio mais de uma asa munida para exterminar. No
meio mais de uma bomba atômica lançada além da hereditariedade secular. No meio
mais de uma guerra travada em nome da camuflada liberdade. No meio a réplica
desfigurada de uma cidade. No meio a clareira aberta de um sertão milenar. No
meio mais de um córrego transformado em esgoto fétido e insalubre. No meio mais
de um rio condenado pela modernidade. No meio um ambiente natural desfigurado
em sua totalidade. No meio mais de um alerta de calamidades. No meio os tufões,
os tsunamis, os vulcões, os terremotos, as tempestades.
No fim a humanidade desprovida de
sensibilidade adequada para conservar. No fim a harmonia padecida e esfacelada
para equilibrar. No fim o planeta aquecido e em degelo avassalador. No fim a
fome sem protagonista e sem autor. No fim mais de uma guerra pela ausência do
amor. No fim mais de uma espécie animal e vegetal exilada do paraíso terrestre.
No fim mais de uma criança sem creche e sem escola. No fim mais de um paciente
sem leito e sem hospital. No fim mais de um chapeuzinho vermelho nas garras do
mesmo lobo mau. No fim mais de uma cigarra sem nem mesmo o abrigo da formiga.
No fim mais um conto da carochinha sem nenhum prato de comida. No fim o “the
end” que continua omitindo o único e verdadeiro responsável. No fim a mesma
degradação ambiental continuada. No fim a mesma velha história recontada.
Airton
Reis é poeta em Cuiabá-MT. airtonreis.poeta@gmail.com
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