A bola, o bolo e a cereja...
Confeitaria
francesa. Confederação dita popular. Brioches de par em par. Guilhotina sem
pescoço. Angu com mais de um caroço. Massa fermentada pronta para as sucessivas
fornalhas. Gatos esperando por migalhas. Ratos lambuzados da mesma cobertura.
Formigas vermelhas no pé da mesa. Destreza no ato de açucarar. Esperteza na
arte de representar.
Goiaba sem
bicho. Arena no capricho. Estruturas erguidas. Cadeiras encomendadas. Cadeiras
douradas. Cadeiras exclusivas. Cadeiras colossais. Cadeiras medievais. Cadeiras
cravejadas de diamantes. Cadeiras orçadas em preços alarmantes. Cadeiras dos
reinados sem fim. Cadeiras dos impérios perpetuados. Cadeiras dos assentos
caramelados.
Água na boca além de um diabético
dependente da dose diária de insulina. Acomodação mais do que hospitalar para
quem sofre de qualquer distúrbio renal. Vanguarda na inclinação nem tanto
vertical. Prolongamento para o pescoço protegido de qualquer impacto advindo de
uma bolada desvirtuada em divididas. Massagens programadas para os intervalos
das quatro partidas.
Coloridas como
o arco-íris em arco celestial. Confortáveis como o leito nupcial. Cadeira de
solteiro. Cadeira de casal. Cadeira de pedra. Cadeira de madeira. Cadeira de metal.
Cadeira reclinável. Cadeira luxuosa. Cadeira em verso. Cadeira em prosa.
Cadeira despetalada. Cadeira investigada. Cadeira rimada. Cadeira da torcida
organizada. Quem a viu? Quem a aprovou? Quem nela sentará? Quem por ela pagará?
A bola em breve
no campo gramado. O bolo encontra-se amanhecido na estufa diante da clientela
esfomeada. A cereja flambada em autêntico rum caribenho. A bola sem furo e sem
estouro. O bolo da farinha do tesouro. A cereja colorida artificialmente. E o
bandeirinha? Ausente ou inoperante? E o juiz? Imprudente ou vacilante? E o
público pagante? Presente e vigilante!
A bola já está
pronta para a rede balançar. O bolo ainda depende de quantas bocas famintas vai
saciar. E a cereja? Era uma vez... Já comeram!
Airton Reis, professor, poeta e embaixador da paz em Mato
Grosso. airtonreis.poeta@gmail.com
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