quarta-feira, 24 de julho de 2013

Escritura profanada

Escritura profanada
     “Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas”. Apocalipse 1, 19.

      Eis que vejo das leis a inércia, da contemplação o avesso, da natura o preço, do fim o começo. Eis que ouço uma evasiva lógica, um discurso inflamado, um grito inconformado, um pranto coletivo, um gemido cativo. Anoiteço e amanheço. Escrevo e opino. Rimo e constato. Leio e relato. Concreto ou abstrato? Ruína ou construção? Censura ou liberdade de expressão? Literatura ou eixo deslocado de uma mesma rotação? Fé ou mundo pagão?
       Creia-me: Sucedem-se atos de insensatez. Testemunhas de época? Talvez... Converte-se orbe em urbes e cumprem-se as Profecias do Evangelista São João. Trombetas de uma mesma anunciação. Retretas em verso. Lunetas de mão em mão.
       Eis que vejo das constelações, a luz divinal.  Eis que ouço das estrelas, a melodia celestial. Eis que vejo das multidões, as necessidades de cada dia. Eis que ouço dos povos, a desigualdade além de uma mordomia. Eis que vejo dos miseráveis, além de uma precária e insalubre moradia. Eis que ouço dos governantes, a continua e famigerada demagogia. Eis que vejo dos legisladores, a falência da transfigurada democracia.
       Quem vem lá? Quem comanda? Quem marcha? Quem fortalece? Quem guia? Quem norteia? Quem ocupa? Quem esvazia? Quem usurpa? Quem propaga a regalia? Quem vive de utopia? Quem morre de barriga vazia? Quem tem medo de água fria? Quem tem o dedo apontado? Quem está desempregado? Quem foi ou é violentado? Quem nasceu em berço esplendido? Quem padece em beco sem saída? Quem escreve o Livro da Vida?

        Ele que se fez o Verbo encarnado. Ele que se tornou o Consolador prometido e enviado. Ele que foi imolado pela nossa salvação. Ele que trouxe ao mundo a misericórdia e o perdão. Ele que se elevou como a âncora da esperança do povo cristão. Ele que se ofertou no Cálice e no Pão da Eucaristia Sagrada.
        Ele que se exaltou como o Mestre da Caridade humanizada. Ele que se revelou como Jesus Cristo, Nosso Senhor, o Princípio, o Meio e o Fim da Fé professada. Vejamos a sua face em toda e em qualquer alvorada. Ouçamos o Seu Mandamento de Amor em todo e em qualquer caminho, em toda e em qualquer jornada. Ele que está aquém e além de uma Escritura profanada.

Airton Reis, professor, poeta e embaixador da paz em Mato Grosso. airtonreis.poeta@gmail.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário