quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Cinco por cinco

Cinco por cinco


     Cinco meses de detenção. 
Cinco torcedores de um timão.
Cinco dedos de uma mão investigada. 
Cinco sentidos de uma torcida organizada. 
Cinco horas derradeiras. 
Cinco minutos repentinos. 
Cinco segundos passageiros. 
Cinco brasileiros. 
Cinco detentos na agonia de uma cela. 
Cinco cidadãos de volta para a pátria verde e amarela.
     Quadrado em nada perfeito. 
Disparo sem sujeito. 
Vítima fatal. 
Efeito mais do que moral. 
Prisão ilegal. 
Liberdade tardia. 
Cidadania alvejada. 
Embaixada ou embaixadinha? 
Goleada ou moela de galinha? 
Pátria amada ou pátria amante? 
Nação constitucional ou nação sem representante? 
País republicano ou país errante? 
Estado ou estadia forçada? 
Tropa de elite ou tropeiros sem estrada?
     Começo, meio ou fim da picada? 
Palácio além de uma alvorada. 
Cobra criada. 
Presidente ou presidenta de um país tropical? 
Nome genérico ou discordância gramatical? 
Regência ou incongruência institucional? 
Maestrina de coral ou esquina sem sinaleiro? 
Fósforo apagado ou isqueiro vazio? 
Frio de julho ou calafrio de agosto? 
Retrato falado ou baderneiro sem rosto?
     Reprovação ou desgosto popular? 
Manifestação ou vandalismo inconseqüente? 
Fumaça continuada ou fogo apagado? 
Ar poluído ou ambiente inadequado? 
Bandeira tremulante ou vidro quebrado? 
Palavra de ordem ou carro pichado? 
Leque chinês ou ventilador ligado? 
Clima seco ou barômetro alterado? 
Jovem eleitor ou estudante preterido? 
Sistema de saúde falido ou paciente não atendido? 
Violência incontida ou cordas arrebentadas de uma viola?
     Bolsa família ou bolsa esmola? 
Fundo falso ou compra sem sacola? 
Público ou privado? 
Arena ou viaduto inacabado? 
Barraco de zinco ou concreto armado? 
Morro ocupado ou fogo cruzado? 
Lago Paranoá ou Corcovado? 
Planalto Central ou paulicéia desvairada? 
Rodovia ou avenida interditada? 
Faixa ou faxina institucional com água clorada? 
Saída de emergência. 
Sirene ligada. 
População evacuada. Gás pimenta, bomba disparada. 
Paulada por paulada. Pedrada por pedrada...
      Cinco por cinco ou circo armado? 
Cinco por cinco ou pão inflacionado? 
Cinco por cinco ou eleições antecipadas? 
Cinco por cinco ou ministérios de fachadas?
 Cinco por cinco ou justiça social? 
Cinco por cinco ou pacto federal? 
Cinco por cinco ou quinto constitucional? 
Cinco por cinco ou copa mundial? 
Cinco por cinco ou ingerência governamental? 
Cinco por cinco ou legislação federal? 
Cinco por cinco divididos ou multiplicados? 
Cinco por cinco subtraídos ou adicionados? 
Faça a conta você mesmo leitora e leitor desta opinião virtual. 
Faça de conta que ainda vivemos sob a égide de uma mesma Constituição Federal.

Airton Reis, professor, poeta e embaixador da paz em Mato Grosso. airtonreis.poeta@gmail.com



Dor fingida

Dor fingida

De dor fingida não constituirá o meu verso.
Não empresto rimas melancólicas para falar do cortejo fúnebre dos rios e traduzir o sentimento do coração pantaneiro.
Não! Não falarei da morte pela morte, do fim pelo fim.
Não cantarei a exploração que dizima floreada com pobres rimas somente para serem páginas esquecidas no tempo das fábricas, nos espaços das cidades.
Sim! Falarei da morte pelo capital, do fim do Pantanal.
Cantarei a exploração pseudo-racional e o meu canto será denúncia.
Sim! Ouvirei o estrondo que ecoa das florestas ao Norte:
Madeiras de lei vida ou morte?
Sim! Sentirei a fuga dos repteis sob as trilhas que conduzem o do fogo exterminador.
E voarei com o bando de pássaros que abandonam os ninhos incendiados.
E nadarei nos rios contaminados.
E serei poeta sentidor...
Dor que deveras sente sem ser fingidor.
Airton Reis, professor, poeta e embaixador da paz em Mato Grosso.