quinta-feira, 6 de junho de 2013

Ambiente: princípio, meio e fim

Ambiente: princípio, meio e fim



      No princípio o fogo recriado além da chama ardente. No princípio a água abundante em mais de uma nascente. No princípio o solo fértil naturalmente. No princípio pedras lascadas e lanças afiadas. No princípio feras dominantes e feras dominadas. No princípio árvores em moradas improvisadas. No princípio grutas primitivas habitadas. No princípio à caça e a pesca artesanal. No princípio os frutos colhidos em mais de uma floresta além da tropical. No princípio os oceanos separavam sem qualquer integração. No princípio do trigo cultivado o pão. No princípio da uva fermentada o vinho. No princípio do algodão o tecido. No princípio da cana o açúcar, a aguardente e a rapadura. No princípio o cavalo sem ferradura. No princípio a monocultura movida pela escravidão. No princípio os metais e as pedras preciosas movendo os interesses de mais de uma nação. No princípio toda a criação à imagem e semelhança do Criador. No princípio o mesmo rebanho humano e mais de um pastor.
      No meio a navegação ultra marina de cunho mercantilista. No meio a roda que se fez locomoção essencial. No meio os trilhos com mais de um vagão comercial. No meio os feudos sob a égide da mesma coroa imperial. No meio as terras disputadas em arsenal. No meio os povos nativos dizimados pelos colonizadores. No meio os excluídos em outras periferias em nada urbanas. No meio os palácios erguidos em nome das pátrias proclamadas republicanas. No meio mais de uma asa munida para exterminar. No meio mais de uma bomba atômica lançada além da hereditariedade secular. No meio mais de uma guerra travada em nome da camuflada liberdade. No meio a réplica desfigurada de uma cidade. No meio a clareira aberta de um sertão milenar. No meio mais de um córrego transformado em esgoto fétido e insalubre. No meio mais de um rio condenado pela modernidade. No meio um ambiente natural desfigurado em sua totalidade. No meio mais de um alerta de calamidades. No meio os tufões, os tsunamis, os vulcões, os terremotos, as tempestades.
      No fim a humanidade desprovida de sensibilidade adequada para conservar. No fim a harmonia padecida e esfacelada para equilibrar. No fim o planeta aquecido e em degelo avassalador. No fim a fome sem protagonista e sem autor. No fim mais de uma guerra pela ausência do amor. No fim mais de uma espécie animal e vegetal exilada do paraíso terrestre. No fim mais de uma criança sem creche e sem escola. No fim mais de um paciente sem leito e sem hospital. No fim mais de um chapeuzinho vermelho nas garras do mesmo lobo mau. No fim mais de uma cigarra sem nem mesmo o abrigo da formiga. No fim mais um conto da carochinha sem nenhum prato de comida. No fim o “the end” que continua omitindo o único e verdadeiro responsável. No fim a mesma degradação ambiental continuada. No fim a mesma velha história recontada.
Airton Reis é poeta em Cuiabá-MT. airtonreis.poeta@gmail.com






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