quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Coração de José...

Coração de José...
   Crônica quase em data natalina sem nada para comemorar. Naftalina em pastilha prescrita pela ordem parlamentar. Gosto amargo de uma condenação penal. Artéria obstruída em questão institucional. Válvula implantada por mais de um cirurgião de renome nacional. Passageiro da agonia algemado. Paciente mais do que acamado. Beliche de um prisioneiro acompanhado. Leito de um hospital especializado. Afastamento protocolado. Perda de um mandato ignorado. Invalidez permanente comprovada em atestado. Coração quiçá aposentado.
   Coração outrora aguerrido pela cidadania. Coração outrora combatente pela soberania. Coração doravante indigente da democracia. Coração doravante esquecido. Coração corrompido. Coração magoado. Coração aprisionado. Coração descompassado em cantos mil. Coração do político da pátria mãe em nada gentil. Coração do parlamentar julgado culpado. Coração do deputado custodiado. Coração enfartado em mais de uma ocasião. Coração cadenciado pela corrupção.
    Coração de José, sem rebanho e sem pastor. Coração de José, sem palanque e sem eleitor. Coração de José, submerso pelo mesmo desamor. Coração de José, antes representante mais do que popular. Coração de José, antes um porto mais do que partidário para ancorar. Coração de José, antes um rio piscoso para navegar. Coração de José, agora um mar de lamas para “chafurdar”. Coração de José, em pedras atiradas com destreza. Coração de José, em pedregulhos rolados na vazão de uma mesma correnteza.
      “E agora José?”. Perguntaria Drummond... E agora que o coração falha em circulação? E agora que o coração é a carne de uma mesma navalha em ação? E agora que o coração é o escudo de um mesmo peito? E agora que o coração é o sujeito simples em mais de uma oração? E agora que o coração é o predicado em uma mesma petição? E agora que o coração é o substantivo de uma arbitrariedade decretada? E agora que o coração é o adjetivo de uma lei remendada?
        Luz apagada. Papuda em temporada. Indulto natalino com direito a rabanada. Coração de José pulsa e aguarda mais do que as doze badaladas com data e hora marcada com precisão. Coração de José, em breve, uma página virada por mais de uma mão. Coração de José, mais do que um órgão outrora vital do mesmo “mensalão”. Pelo sim, pelo não, o coração de José continua em observação...
Airton Reis, professor, poeta e embaixador da paz em Mato Grosso. airtonreis.poeta@gmail.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário