quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Era uma vez Josué...

Era uma vez Josué...
     “Por Deus! Não é só o amor à arte que falece nesta terra, é também o amor ao próximo”. (Machado de Assis – “Crônicas”).
      Algozes investidos pela selvageria humana. Manchete de jornal reincidente na mesma pátria republicana. Calamidade existencial mais do que urbana. Familiaridade profana e profanada. Infância maculada. Criança destinada ao padecimento sem qualquer socorro emergencial. Chapeuzinho Vermelho e o mesmo lobo mau. Conto em faz de conta mais do que social.
      Era uma vez uma criança nascida chamada Josué. Era uma vez uma criança nascida em lar sem fé. Era uma vez uma criança nascida indefesa. Era uma vez uma criança nascida sem o berço de qualquer realeza. Era uma vez uma criança nascida num beco sem saída. Era uma vez uma criança nascida de uma maternidade adormecida. Era uma vez uma criança nascida de uma paternidade assinalada pela covardia desmedida.
      Era uma vez uma criança nascida sem direito a qualquer cidadania dita civilizada. Era uma vez uma criança nascida de uma gestação conturbada. Era uma vez uma criança nascida com a hora marcada pelo instinto brutal. Era uma vez uma criança nascida com os dias contados para o retorno à pátria espiritual. Era uma vez uma criança assassinada em plenitude existencial.
      Mordidas e traumatismo craniano comprovado em laudo médico assinado. Dentadas de uma arcada em corte afiado. Corpo lançado ao chão. Fúria sem qualquer delação. Ferimentos continuados sem nenhuma salvação. Sentimentos isentos de qualquer candura. Coração silenciado nas profundezas de uma sepultura.
      Josué em epitáfio censurado nas páginas de uma mesma literatura. Josué em espiral movido pela agonia de uma vida repleta de amargura. Josué em via escura. Josué em viés remendado. Josué em desenlace conturbado. Josué: Doravante alado. Josué: Doravante diante do mesmo Mandamento isento de todo e qualquer pecado.
      Josué em outro tempo cronometrado pelo verbo amar. Josué em outra dimensão estelar. Josué na partitura de uma canção sem nenhum ninar. Josué reconduzido ao verdadeiro lar. Josué iluminado em outro despertar. Josué nem tão próximo e nem tão distante. Josué nem tanto filho e nem tanto infante. Josué doravante nos braços do Pai e Criador. Josué doravante livre e distante de qualquer dor. Josué doravante integrante do rebanho conduzido pelo Bom Pastor.
      Josué: Ide em direção a paz eterna e celestial! Josué: Perdoai-nos pela falência do sentimento mais do que fraternal! Josué: Deus contigo, doravante tornou-te anjo imortal!
Airton Reis, professor, poeta e embaixador da paz em Mato Grosso. airtonreis.poeta@gmail.com


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