quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Costumes dos acostumados

Costumes dos acostumados
       Era uma vez um compasso invisível. Era uma vez um esquadro, um prumo e um nível. Era uma vez uma régua de vinte e quatro polegadas. Era uma vez um lápis e um cordel em palavras publicadas. Era uma vez uma alavanca determinante. Era uma vez um maço e um cinzel operante.
       Era uma vez uma barreira instransponível. Era uma vez um terreno pantanoso. Era uma vez um eleitor duvidoso. Era uma vez uma candidatura atingida por mais de um vendaval. Era uma vez uma lagoa e um rio condenados pela mesma degradação mais do que ambiental. Era uma vez um pleito eleitoral.
       Carruagem de Cinderela. Escadaria da favela. Morro em pé de guerra. Mazela forjada a ferro e fogo. Povo acuado. Povo miscigenado. Povo discriminado. Povo pavão. Povo povão. Povo formiga. Povo barriga. Povo braço. Povo braçal. Povo laje. Povo legislação. Povo cultura. Povo alforria. Povo liberdade em tempo integral. Povo cidadania legal. Povo democracia real. Povo educação fundamental. Povo saúde emergencial.
       Toca do leão. Tesouro da Nação. Tributação. Tributos e tributados. Destinação. Destinos perdidos. Horizontes corrompidos. Infantes armados. Bancos arrombados. Bandos mascarados. Crimes organizados. Presídios superlotados. Armamentos contrabandeados. Manchete de jornal. Página policial. Boletim de ocorrência. Insuficiência militar. Continência civil. Elevemos o Brasil! Exaltemos o Estado de Mato Grosso em cantos mil!
       Tremulemos com força e vigor a bandeira da probidade mais do que institucional. Brademos pela ética revestida da mais límpida moral. Exijamos o dever constitucional. Livremo-nos da corrupção de cada dia. Resguardemos a ordem em toda e qualquer jurisdição. Façamos do país uma história sem qualquer ficção. Cultivemos a virtude da verdade. Cumpramos a nossa responsabilidade. Efetivemos os nossos direitos. Sejamos sujeitos elencados em mais de uma oração. Saibamos o preço do beijo de uma secular traição.
       Nem Judas, e, nem Pilatos! Pratos limpos, sim senhora e sim senhor!
       Bocas nem mudas e nem caladas. Orelhas atentas. Narinas aguçadas. Tato e paladar. Sexto sentido antes de confirmar. Urubu, no ar rarefeito. Camaleão, no fogo em ardente chama. Jacaré, submerso na água reduzida em lama. Cá na terra, outra fauna. Cá no mato, outra lebre. Cá no reino animal, outro predador camuflado. Cá em outra cadeia alimentar, mais de um filhote devorado.
       Afinal, vencerão os eleitores bem informados. Por fim, e desde já: Vivas aos juristas mais do que colegiados! Ao final, saberemos os costumes dos acostumados.
Airton Reis, professor e poeta em Cuiabá-MT.


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