quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Prato do dia...

     “Os cães ladram. A caravana passa”. Raposas e Rapunzel. Damas e camélias. Príncipes e principados. Reinos coroados. Súditos subestimados. Tronos repassados de mão em mão. Tratados avançados de uma Nação. Hiléia tropical. Sertão e litoral. Tribos e donatários. Capitanias provinciais. Barões coloniais. Paralelos e Meridianos. Assentamentos Rurais. Aglomerados urbanos. Monarquistas ou republicanos? Perdas ou desenganos? Fortuna ou vintém de cobre? Escuna ou pirataria? Duna ou democracia?
      Areia de uma ampulheta quebrada. Oásis de uma pátria saqueada. Água racionada em cantil de couro de cotia. Cavalos selados em montarias. Vacas leiteiras. Porteiras fechadas. Boiadas nas invernadas. Bezerros desmamados. Berrantes nas cinturas. Secas prolongadas. Comitivas nas estradas. Travessias. Boi de piranha. Cabra e cabrito. Cordeiro e lobo mau. Boneco de pau. Boneca de porcelana em nada chinesa. Brioches com creme de framboesa. Fantoches camaradas. Caras mascaradas. Temporadas.
      Picadas palacianas em fragmentos. Trilhas dos parlamentos. Picadas em inventos continuados além da linha do equador. Trilhas partidárias em nível sem prumo. Acomodações majoritárias sem rumo. Fumo de corda trançada. Funil de óleo queimado. Farelo de trigo moído. Martelo de prego enferrujado. Moinho de vento encanado. Engenho de melado. Rapadura de mamão. Eleitorado e eleição.
      Primeira e única refeição. Iguarias nas mesas improvisadas. Talheres nas mãos lavadas. Bacias prateadas. Brindes e entradas. Torradas e barquetes. Empadas e croquetes. Caviar e salmão. Tomate seco e tâmaras cristalizadas. Azeitonas recheadas. Queijo suíço. Sumiço circunstancial. Aviso de ordem gerencial: Não servimos prato feito e nem prato comercial.
      Enfim, o cardápio principal. Assado em alta temperatura e decorado com o primor da culinária francesa. Javali à montanhesa. Molho de lentilhas ao vinho sul africano. Arroz com cogumelos, com ervas e com especiarias. Regalias dos abastados.  Desjejum dos convidados pelo primeiro escalão. Quarto da regurgitação. Barriga cheia esvaziada. Hora da sobremesa açucarada. Pavê de marmelada ou pudim de pão amanhecido? Cocada gelada ou sorvete derretido em calda quente? Compota de jacá ou ricota de búfala com doce de banana nanica?
      Você escolhe. Você degusta. Você indica. Isto é, caso você não tenha nenhuma restrição alimentar. Isto é, caso você seja convidado para um lugar na mesa desse jantar. E a comanda, quem vai pagar? Não se preocupe. A boca é livre. O estômago é de elefante. A fome é de leão. Compostura ou etiqueta social? Isso não conta. O que vale é a fartura descomunal. Ao final, se não for servido chá digestivo ou conhaque de alcatrão, saque da bolsa – ou bolso – o conhecido, eficaz e efervescente sonrisal... Fim!
Airton Reis, professor e poeta em Cuiabá-MT.

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