sexta-feira, 3 de maio de 2013

Crônicas do caos (II)


Crônicas do caos (II)


     Um disparo em nada acidental. Um disparate mais do que constitucional. Uma disputa deveras finada depois de um pleito eleitoral. Um jogo de empurra desproporcional. Uma carta endereçada para mais de um destinatário sem qualquer código postal. Um grito de socorro além de um morro ocupado. Uma mão armada além de qualquer periferia. Uma família ameaçada em plena luz do dia. Uma pátria maculada pela mesma anarquia.
     Uma força em nada camuflada. Uma vida em valia banalizada. Uma vítima sepultada sem qualquer honraria. Um funeral sem vela, sem flor e sem fita amarela. Uma aquarela borrada aquém de uma favela. Uma panela de pressão mais do que prestes a explodir. Um dom político movido pelo verbo iludir. Um domínio social em plena penúria coletiva. Uma cidade cativa. Um Estado sitiado. Uma pátria em nível descompensado.
     Um infante viciado. Um adolescente traficante. Uma boca operante. Um dente extraído antecipadamente. Um umbigo não cicatrizado. Um parto improvisado. Um cria brutal. Uma falange do mal. Um pelotão além de uma fronteira devassada. Um dedão da unha encravada. Um calo mais do que regimental. Uma calamidade mais do que social. Uma realidade mais do que emergencial. Uma fatalidade explicita. Uma casualidade em nada pontual.
     Uma secretaria desarticulada. Uma redoma quebrada. Uma família acuada. Uma segurança prorrogada. Uma penitenciária super lotada. Um barril de pólvora pulverizada. Uma quadrilha em operação quadriplicada. Uma matilha em noite nada estrelada. Uma escuridão sem beco e sem saída planejada. Uma arapuca armada. Uma sociedade fadada ao desengano.
     Um plano de fuga para Pasárgada. Uma passagem de navio para os confins de uma pátria deveras amada. Um porão fétido pela politicagem de cada dia. Uma democracia em agonia. A mesma fome continuada de cidadania. A mesma sede de justiça sem qualquer valia penal. A mesma ordem afrontada em mais de uma ocorrência policial. O mesmo bando mais do que marginal. O mesmo caos infernal. O mesmo descaso nacional. Santa Catarina arrolada em página processual. São Paulo da bala disparada em mais de um arsenal. Constatação da falência civil. Contradição espelhada num mesmo Brasil.
     Espelho, espelho meu: Existe outra Marília sem Dirceu? Espelho, espelho meu: Existirá outra inconfidência além da mineira? Espelho, espelho meu: Quem morreu na pátria brasileira? Espelho, espelho meu: Quem sucumbiu além de Manoel Bandeira? Espelho, espelho meu: Quem te elegeu imagem e semelhança da esperança de paz social prometida? Espelho, espelho meu: Quem te quebrará por uma bala mais do que perdida?
     O espelho não respondeu. A margarida não floresceu. A violência continuou. O Brasil exportou o disparo mais do que certeiro. O povo pagou a construção do coliseu mais do que romano. O império do crime se corou no país dito republicano. Nem Tróia, nem troiano. Nem Esparta, nem espartano. Apenas a segunda crônica do caos elencado pelo mesmo desengano!
     Deus nos salve! Deus nos livre! Deus guarde além de um cidadão alagoano! Vida curta ao destino social mais do que insano! Ponto sem final mais do que profano!
Airton Reis é poeta em Cuiabá-MT. airtonreis.poeta@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário