Filhos das drogas

Filhos das drogas

      Órgão social. Tecido político. Célula cidadã. Enfermidade sem fronteira. Realidade brasileira. Violência derradeira. Descaso governamental. Imagem real. Conto sem ficção. Internação tardia. Falência constitucional. Ausência tutorial. Maternidade contestada. Humanidade violada. Carência despercebida. Inclemência incontida. Intolerância desmedida.

      Miserabilidade reincidente. Realidade inclemente. Cidadania ausente. Destino existencial. Acolhimento institucional. Decadência comportamental. Displicência legal. Adoção tardia. Filiação sem garantia. Centro e periferia. Becos e bocas. Guetos e balelas. Bandidos e marginais. Filhos sem pais. País sem prismas assistenciais.

     Varredura superficial. Ação emergencial. Degradação moral. Filiação ausente. Maternidade indiferente. Procriação prostituída. Infância perdida. Juventude maculada. Recuperação anulada. Ruas ocupadas. Viseiras colocadas. Viciados e traficantes. Andarilhos e meliantes. Bandos e marginais. Quadrilhas e encarcerados. Destinos relegados.

     Partos e apartados. Partidos e destroçados. Pedintes e violentados. Públicos e publicados. Podres e condenados. Pobres e indigentes. Penitentes e relegados. Penúrias e descasos. Perdição e amargor. Constituição e desamor. Rimas sem poesias. Reinos sem alforrias. Réplicas tardias. Correntes sem amarras. Caras e caretas. Prostíbulos e sarjetas. Duplas e bandos. Desenganados e desassistidos. Drogados e desnutridos.

     Excluídos e excludentes. Ignorados e reincidentes. Melindres e meliantes. Monstros e moscas. Migalhas e minorias. Fagulhas e facadas. Dias, noites e madrugadas. Cachimbadas! Vidas violadas. Vidas ameaçadas. Vidas sem qualquer valor. Vidas nas videiras do mesmo Criador. Vidas nas bandeiras da mesma Nação. Vidas nas bandalheiras dos mesmos estados federados. Vidas nas beiras das mesmas cidades do crime organizado. Vidas concebidas pelo mesmo pecado mais que original. Vidas destituídas pelo mesmo princípio republicano deveras legal.

     Solidariedade onde estais que não vos avistamos? Irmanemo-nos ou vos ignoramos? Filhos das drogas ou filhos do mesmo desengano?

Airton Reis é poeta em Cuiabá-MT. airtonreis.poeta@gmail.com