sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Brasil brasileiro

Brasil brasileiro
      Além das Minas Gerais nas páginas de uma mesma história. Além dos inconfidentes cultuados em memória. Além da glória passageira de uma monarquia imperial. Além da ilusória nobreza colonial. Depois dos gritos pelas independências continuadas em disputas territoriais. Depois dos golpes republicanos dos marechais. Durante os regimes dos generais. Durante as ditaduras camufladas em anais. Durante os diversos mandatos políticos advindos de pleitos eleitorais.
        Neste exato momento de condolências à cidadania fluminense abatida por mais de um tiro certeiro. Neste retrato margeado pela fatalidade além da explosão de um bueiro. Neste corpo infante alvejado num beco da periferia. Neste verso sem qualquer poesia. Neste atestado de óbito em lauda pericial equivocada e tardia. Neste exame de DNA mais que social. Neste artigo assinado em opinião publicada em jornal. Neste e naquele capítulo constitucional não observado em essência legal. Neste e naquele boletim de ocorrência policial.
        Nesse país chamado Brasil antes mesmo de ser República Federativa. Nesse pavilhão edificado pelo patriotismo e pela nacionalidade. Nesse parágrafo ampliado pela liberdade de imprensa e de expressão. Nesse mastro onde tremula a mesma bandeira de uma Nação. Nesse sertão com mais de uma fronteira internacional desguarnecida em sentinela. Nesse e naquele aglomerado habitacional denominado favela.
        Nesse e naquele estomago sem o pão de cada dia. Nesse e naquele pulmão a fumaça da lata que vicia. Nesse e naquele pelotão a infância alistada pela criminalidade cada vez mais fatal. Nesse e naquele morro sem posto de saúde e sem educação em tempo integral. Nesse e naquele Estatuto sem qualquer orçamento anual garantido pela mesma Constituição Federal. Nesse e naquele juizado especial da infância e da adolescência. Nesse e naquele presídio superlotado. Nesse e naquele auxílio família desviado.
        Mais de um corpo sepultado como indigente. Mais de um morto pela fúria inclemente. Mais de uma guerra urbana nas jurisdições reféns da barbárie humana. Mais de uma missa de sétimo dia nem sempre celebrada. Mais de uma alma brasileira penada e apenada. Realidade além de um roteiro da sétima arte premiado em festival. Impunidade desfigurada em imunidade penal.
       Grão de milho de pipoca estourado na panela de pressão. Balão, quentão e quadrilhas. Camarão, salmão, caviar e ervilhas. Matilhas. Lobo guará, carniça, carcará. Formigas e vermes. Tamanduá mirim com a língua ocupada. Tamanduá bandeira atropelado na rodovia pavimentada. Nem vela, nem fita amarela. Apenas mais uma cadeia em nada alimentar. A igualdade foi considerada ré primaria. A liberdade faleceu na mesma cela solitária. Enquanto isso, a fraternidade renasceu em alvorada solidária. Fim.
Airton Reis, professor, poeta e embaixador da paz em Mato Grosso. airtonreis.poeta@gmail.com


     

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