segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Três em três

Três em três

      De três em três, o eleitorado cada vez mais freguês. Freguesia em espaço e em tempo retocados. Secos e molhados. Eleitos e condenados. Nativos e refugiados. Unidos e desgarrados. Médicos importados. Professores de braços cruzados. Catracas caladas. Caras pintadas. Caras mascaradas. Caras diferenciadas. Caras duplicadas. Caras julgadas. Caras aprisionadas.
      Cara de quem aprovou e se arrependeu. Cara de quem manifestou e se feriu. Cara de quem saqueou e infringiu. Cara de quem prometeu e não cumpriu. Cara de quem sonhou e não dormiu. Cara de quem desviou e subtraiu. Cara de quem é preso com regalia. Cara de quem é custodiado com água fria. Cara de quem pinta e borda a democracia com extrema habilidade eleitoral. Cara de quem cava e enterra os capítulos elencados na Carta Magna Constitucional.
      Três meses de uma mobilização nacional continuada em bandalheiras. Três poderes distanciados em deveres e permeados em rasteiras. Três parlamentos isentos de peneiras. Asneiras e pedreiras pelos caminhos conturbados. Empossados afastados. Colarinhos cada vez mais engomados.
      Três meses passados pelo despertar de uma Nação. Três poderes despetalados numa mesma floração. Três parlamentos desnivelados pela imperfeição. Três meses trocados por tostão. Três poderes deveras fermento do mesmo pão. Três parlamentos ouvintes da diversificada insatisfação.
       Trinca de reis trincados. Tropa da comitiva dos condenados. Toca dos tatus acuados. Time dos contundidos aquém dos gramados. Torcida dos diplomados pela corrupção corriqueira. Trupe circense em temporada passageira. Tomate caqui no fim da feira. Ovos requentados na frigideira. Tutu à mineira. Torresmo de primeira. Copa tipo brasileira. Salame defumado fatiado. Leite desnatado derramado. Tico-tico do bico quebrado. Tamanduá esfomeado. Jacaré no banhado. Adjetivo sem predicado. Público coletivo de privado. Meio ambiente meio conservado.
      Três meses. Três poderes. Três parlamentos. Três contas. Três portas. Três números. Três letras. Três telhas. Três tijolos. Três colunas. Três casas. Três tetos. Três torres. Três ponteiros. Três votos secretos. Três decretos. Três pavimentos incertos. Três saídas emergenciais. Três terremotos institucionais. Três tufões tropicais. Tremem o porto... Desmoronam o cais. Inundam os litorais! E os sertões? Abalados? Sim. Desesperados? Jamais!
Airton Reis, professor, poeta e embaixador da paz em Mato Grosso. airtonreis.poeta@gmail.com


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