segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Legado do desengano

        Vento indiciado. Ventania causa. Vento culpado. Ventania remendo. Vento em várzea. Ventania grande. Vento velocidade. Ventania prejuízo. Vento sem pista. Ventania sem asa. Vento tripulante. Ventania passageira. Vento errante. Ventania direcionada. Vento desconcertante. Ventania arrolada. Vento teto desabado. Ventania teto atingido. Vento aeroporto inacabado. Ventania mobilidade urbana com mais de um predicado.
        Viaduto com fissura. Viaduto condenado. Viaduto interditado. Viaduto liberado. Viaduto risco estrutural. Viaduto capital. Viaduto circular. Viaduto da meia volta. Viaduto da volta e meia. Viaduto meio anel. Viaduto de papel. Viaduto de papelão. Viaduto do canto da sereia. Viaduto cartilagem de baleia. Viaduto de nome honroso. Viaduto de custo duvidoso. Viaduto armado. Viaduto implodido. Viaduto versejado. Viaduto advertido. Viaduto versejado. Viaduto finado.
        Antes, poderíamos afirmar: Lá vem o VLT! Por hora, podemos lamentar: Lá vinha a desapropriação. Lá vinha a urbanidade em acelerada execução. Lá vinha a escavação no canteiro central. Lá vinha o Morro da Luz em desvio lateral. Lá vinha a Avenida Rubens de Mendonça sem qualquer terminal. Lá vinha a linha principal. Lá vinha a modernidade em passos de gigante. Lá vinha o turista com data e hora marcada. Lá vinha a obra com tapume na fachada. Lá vinha o obreiro em empreitada. Lá vinha o VLT... E até hoje? Nada!
        Vão-se os cifrões! Os dedos continuam apontados. Os dias continuam cronometrados. Os canteiros permanecem paralisados. Grama em nada chinesa. Grana em moeda corrente. Grana real. Grana governamental. Grana municipal. Grana estadual. Grana federal. Grana de todas as esferas. Grana de todos os orçamentos. Grana dos contribuintes. Grana dos enganados. Grana dos tributados. Grana dos cofres saqueados por mais de uma bomba em nada artesanal. Grama formada. Grama sem trilho. Grama milhão. Grama grana da população.
        Silval & Cia. em verso sem prosa. Copa Mundial em brancas nuvens que passou. Cidade Verde que o mundo ignorou. Aeroporto que impressionou pelo improvisado. Trincheira do inacabado. Viaduto do desmoronamento. Concreto sem cimento. Viga sem vergalhão. Trilho sem vagão intermunicipal. “Pássaro passará”, em canto doravante imortal. Continuaremos conjugando o verbo “Verdejar” aquém de um quintal. Doravante, um aglomerado mais do que urbano. Vigilante, um eleitorado mais do que decano. Entre Várzea Grande e Cuiabá, muito mais do que uma fiação, muito mais do que um cano. Por hora, entre nós mato-grossenses, o “Legado do desengano”.

Airton Reis, professor e poeta em Cuiabá-MT. airtonreis.poeta@gmail.com

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