segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Marinar, assar e servir!

Marinar, assar e servir!

          Corte de faca afiada na lima improvisada. Carne de caça autorizada na caçarola de barro vitrificada. Vinho, vinagre e limão. Sal, pimenta do reino e açafrão. Fogo no forno da eleição. Temperatura máxima. Lenha ou botijão? Graveto ou brasa incandescente? Grelha ou grelhado? Carneiro com lentilhas ou leitão recheado? Prato principal ou postulante esfomeado?
          Cardápio ampliado em iguarias. Baião de dois ou bagre ensopado? Escaldado cuiabano ou revirado mineiro? Primeiro outubro. Depois janeiro. Antes setembro derradeiro. Por hora, agosto agonizante. Por minuto, um público mais do que pagante. Por segundo, a fome com nome de representante. Pastoreio ou pastoril? Brasília ou Brasil? Bravata ou gravata de um “casamento” de ocasião? Mamata ou enseada encoberta pela onda da renovação?
         Ninho de um centenário pombal. Falcão faminto. Carcará em vôo rasteiro. Presa e predador. Cadeia alimentar. Hora do verbo votar. Minuto do sujeito simples. Segundo da oração coordenada. Ampulheta da mudança em vazão emergencial. Ponteiros da igualdade num mesmo Pavilhão nacional. Hora da união. Minuto da integração. Segundo da refeição.
          Hora do serviço elencado. Hora do serviçal uniformizado. Hora da mesa arrumada. Hora da toalha esticada. Hora do talher brilhante. Hora da taça espumante. Hora da entrada em guarnição. Hora do mestre cuca. Hora dos convidados oficiais. Hora dos penetras ocasionais. Hora das cadeiras nomeadas. Hora das bocas ocupadas. Hora dos paladares aguçados. Hora dos marinados, que foram previamente assados. Servimo-nos, sem cerimônia!
          Afinal, o cardápio do dia é carneiro com lentilhas ou leitão recheado? E o pombo foi abatido? E o falcão foi saciado? E o carcará migrou da Caatinga para o Cerrado? Quem foi caça? Quem foi caçado? Houve chumbo trocado? Houve violação penal? Houve funeral? Houve ativista ambiental? No reino da ficção, tudo pode a pena quando mergulhada num tinteiro não necessariamente de cristal. No período da eleição, qualquer fome é saciada em tempo real. Ficou com água na boca? Espera os dividendos do pré sal.
          Marina-te carneiro com lentilhas! Assa-te leitão recheado! Serve-nos enquanto eleitorado mais do que convidado. Temos a fome de um leão aquém de uma Savana. Temos a fama de um eleitorado deveras dominante na pátria proclamada republicana. Temos as urnas por divisores. Temos das ruas os clamores. Temos no voto livre, secreto e universal, a esperança de renovação. Temos além de um pombo, um carcará e um falcão. Temos assas, temos bicos, temos garras. Temos viva a liberdade de expressão. Pelo sim, pelo não, confirme com convicção. Boa deglutição!

Airton Reis, professor e poeta em Cuiabá-MT. airtonreis.poeta@gmail.com

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